quinta-feira, 8 de abril de 2010

PROPRIEDADE E DESIGUALDADE

É inquestionável, todos reconhecem, a existência de inumeráveis desigualdades entre as pessoas e também entre etnias, povos e nações, no Brasil e no mundo.Desigualdades clamorosas e abissais. A questão que inquieta é: Qual a causa, ou causas, das desigualdades? De onde se originam? Como? Não sei explicar, mas na minha cabeça há uma estreita interligação entre privilégio, discriminação, preconceito e desigualdade. Funciona assim: os privilégios criam discriminações, geram preconceitos e produzem desigualdades.

A propriedade, ou a posse dela, é o privilégio fundamental. O privilégio do possuidor em face do despossuido, que cria a discriminação do despossuído pelo possuidor e gera o preconceito correspondente. Os privilégios do rico em relação ao pobre, que cria a discriminação daquele em relação a este e gera o preconceito fundamental na sociedade brasileira, que não é o racial, como quase todos pensam, mas o contra os pobres por parte dos ricos. O privilégio do poderoso ante o fraco, o antigo privilégio do senhor perante o escravo, com supremacia incontestável do mais forte.

O conjunto destes privilégios produz, é evidente, as desigualdades que estamos acostumados a nos deparar na vida cotidiana. Desigualdades combatidas com persistência pelos “homens de boa vontade” mas que prosseguem inalteradas séculos após séculos. Estas reflexões me levaram a adotar certa convicção, a que me fixei já de longa data, exposta a seguir em “Uma visão de propriedade e capitalismo”, texto antes publicado, com pequenas alterações.

Uma Visão de Propriedade e Capitalismo

Compartilho com Rousseau e Proudhon as idéias com que, já nos séc. XVIII e XIX, eles atacavam com críticas acerbas a propriedade privada. O primeiro dizia que “A propriedade privada introduz a desigualdade entre os homens, a diferença entre o rico e o pobre, o poderoso e o fraco, o senhor e o escravo, até a predominância do mais forte. O homem é corrompido pelo poder e esmagado pela violência”, enquanto o outro era mais curto e direto, fulminante: “A propriedade é um roubo”.
Rousseau dizia ainda: “O primeiro homem que inventou de cercar uma parcela de terra e dizer “isto é meu”, e encontrou gente suficientemente ingênua para acreditar nisso, foi o autêntico fundador da sociedade civil. De quantos crimes, guerras, assassínios, desgraças e horrores teria livrado a humanidade se aquele, arrancando as cercas, tivesse gritado: Não, impostor!”

A posição que defendo no combate à propriedade privada e ao capitalismo, quer dizer, ao consumismo desbragado e descartável, ao mercado concentrador e predatório, à globalização financeira avassaladora e irresponsável, com a criação do “amor líquido” efêmero e substituível, e a tantas outras mazelas que assolam e afligem a humanidade, combate de toda uma vida, se origina nas idéias expostas acima, que estão perto de cumprir duzentos e cinqüenta anos de divulgação. Porque elas apontam para a origem, a raiz da injustiça que impera no mundo, impeditiva da construção de uma paz duradoura, e que se transformou agora numa “guerra contra a Terra”, no dizer de Leonardo Boff.

O ponto de vista é claro e se origina na “instituição” da propriedade privada, que, ao fim e ao cabo, é fundamento do capitalismo. Digo e repito a todo instante, sem cansaço, que “O capitalismo é intrinsecamente mau. É mau em si mesmo. Porque nele não há lugar para o Amor. Nem para a Justiça e a Paz, pois a Paz é obra da Justiça e fruto do Amor. Sem Amor não há Justiça e sem Justiça não há Paz!” Propriedade, capitalismo e injustiça estão ligados por um cordão umbilical que fomenta e alimenta as desigualdades, mazelas e sofrimentos vividos por uma “humanidade doente e uma dita civilização ocidental cristã apodrecida!”
É só se deter, parar um pouco e refletir, para reconhecer a justeza do que está dito e escrito aí acima.

Quem são os autores citados:

ROUSSEAU - Jean-Jacques [1715 - 1778], nascido em Genebra, Suiça. Filósofo, moralista e escritor francês. Suas idéias expressavam as injustiças sociais da época e exerceram profunda influência no pensamento do séc. XVIII, com destaque para suas obras “Contrato Social”, “Emílio” e “Devaneios de um Caminhante Solitário”.

PROUDHON - Pierre Joseph [1809 - 1865], nascido em Besançon, França. Sociólogo e publicista, foi um dos principais teóricos socialistas do séc. XIX. Propunha uma revolução social que defendesse a igualdade dos indivíduos e extinguisse a propriedade privada.

Um comentário:

  1. Concordo plenamente quando se diz que a propriedade criou a desigualdade, afinal não foi assim que a história nos ensinou, "um dia alguém cercou um pedaço de terra e disse: isso é meu", aí pronto começou o processo de desigualdade do mundo...afirmo meu pensamento nas palavras do texto - Funciona assim: os privilégios criam discriminações, geram preconceitos e produzem desigualdades.
    Abraços e Parabéns pela contribuição!!

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