segunda-feira, 9 de abril de 2012

NOVA COSMOLOGIA E LIBERTAÇÃO

Os textos em elaboração pelo autor demandam ainda muito vagar para ficarem concluidos, não só porque são complexos mas também pela extensão. Para evitar grandes hiatos nas postagens, a solução adotada foi publicar artigos de pessoas de alto nível de pensamento, como Leonardo Boff, inquietos e apreensivos com o caminho seguido pela humanidade sob o guante do capitalismo. Assim é que optamos por este post, de autoria do mencionado Boff, com grifos e notas minhas. Ei-lo e bom proveito.

"Tempos atrás o Museu Americano de História Natural fez uma consulta entre biólogos perguntando se eles acreditavam que estávamos no meio de uma extinção em massa. 70% responderam positivamente que sim. O renomado cosmólogo Brian Swimme, autor junto com Thomas Berry de uma das mais brilhantes narrativas da história do Universo (The Universe Story,1992) foi perguntado o que poderíamos fazer, respondeu: “O universo já vem, há tempos, fazendo a sua parte para deter o desastre; mas nós temos que fazer a nossa. E o faremos mediante o despertar de uma nova consciência cosmológica, vale dizer, se ajustarmos nossas condutas à lógica do Universo. Mas não estamos fazendo o suficiente”.

Que quer dizer esta resposta? Ela acena para uma nova consciência que assume a responsabilidade coletiva com referência à proteção de nossa Casa Comum e à salvaguarda de nossa civilização. E ajustar nossas condutas à lógica do Universo significa responder aos apelos que nos vêm do assim chamado “princípio cosmogênico”. Este é o que estrutura a expansão e a autocriação do universo com todos os seus seres inertes e vivos. Ele se manifesta por três características: a diferenciação/complexificação; a subjetividade/interiorização; e a interdependência/comunhão. (Theillard de Chardin, nos anos setenta, se me não engano, fala com clareza e convicção do princípio da interiorizaçaocomplexificante. Nota de Guima)

Em palavras mais simples: quanto mais o universo se expande, mais se complexifica: quanto mais se complexifica mais ganha interiorização e a subjetividade (cada ser tem seu modo próprio de se relacionar e fazer a sua história) e quanto mais ganha interiorização e subjetiviadade mais os seres todos entram em comunhão entre si e reforçam sua interdependência no quadro de um pertencimento a um grande Todo. Comentam Berry/Swimme: “Se não tivesse havido complexidade (diferenciação), o universo ter-se-ia fundido numa massa homogênea; se não tivesse havido subjetividade, o universo ter-se-ia tornado uma extensão inerte e morta: se não tivesse havido comunhão, o universo ter-se-ia transformado num número de eventos isolados”.

Nós teólogos da libertação, em quarenta anos de reflexão, temos tentado explorar as dimensões econômicas, sociais, antropológicas e espirituais da libertação como resposta às opressões específicas. No contexto da crise ecológica generalizada, estamos tentando incorporar esta visão cosmológica. Esta nos obrigou a quebrar o paradigma convencional com o qual organizávamos nossas reflexões, ligadas ainda à cosmologia mecanicista e estática. A nova cosmologia vê diferentemente o universo, como um processo incomensurável de evolução/expansão/criação, envolvendo tudo o que se passa em seu interior, também a consciência e sociedade.

Em termos do princípio cosmológico, libertação pessoal significa: libertar-se de amarras para sentir-se em comunhão com todos os seres e com o universo, fenômeno que os budistas chamam de “iluminação” (satori), uma experiência de não-dualidade e que São Francisco viveu no sentido de uma irmandade aberta com todos os seres. Em termos sociais, a libertação, à luz do princípio cosmogênico é: a criação de uma sociedade sem opressões onde as diversidades são valorizadas e expandidas (de gênero, de culturas e caminhos espirituais). Isso implica deixar para trás a monocultura do pensamento único na política, na economia e na teologia oficial. Este é o principal fator de opressão e de homogeneização.

A libertação requer também um aprofundamento da interioridade. Esta já não se satisfaz com o mero consumo de bens materiais; pede valores ligados à criatividade, às artes, à meditação e à comunhão com a Mãe Terra e com o Universo. A libertação resulta do reforço da “matriz relacional” especialmente com aqueles que sofrem injustiças e são excluídos. Esta matriz nos faz sentir membros da comunidade de vida e filhos e filhas da Mãe Terra que através de nós sente, ama, cuida e se preocupa pelo futuro comum.

Por fim, a libertação na perspectiva cosmogênica demanda uma nova consciência de interdependência e de responsabilidade universal. Somos chamados a reinventar nossa espécie, como o fizemos no passado nas várias crises pelas quais a humanidade passou. Agora ela é urgente porque não temos muito tempo e devemos estar à altura dos desafios da atual crise da Terra. (grifos e nota de Guima.)



“O UNIVERSO É UM MISTÉRIO! A VIDA, UM MILAGRE!”  pensador Guima .
“A VERDADE É UMA TERRA SEM CAMINHOS... QUE A GENTE PRECISA DESBRAVAR PARA ENCONTRAR NOSSA VERDADE E CONSTRUIR O PRÓPRIO CAMINHO.”  filósofo religioso induKrishnamurti + pensador Guima .
“UM DIA VOCÊ PODE PRECISAR DE ESCOLHER ENTRE O MUNDO E O AMOR. LEMBRE-SE ENTÃO: A ESCOLHA DO MUNDO O DEIXARÁ SEM O AMOR. MAS A ESCOLHA DO AMOR O LEVARÁ A CONQUISTAR O MUNDO.” cientista.pensador A. EINSTEIN + pensador Guima .                                                                               
































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sexta-feira, 6 de abril de 2012

A PAZ DA PÁSCOA


O autor, na falta de produção própria, decidiu não deixar passar em branco este dia em que judeus e cristãos  promovem a celebração do dia especial da Páscoa e resolveu transcrever este belo artigo da lavra do professor de História e deputado federal Chico Alencar, PSOL/RJ, em que trava um monólogo com o grande Millôr Fernandes, recém-falecido, umas maiores "cabeças" deste país, senão a maior.


 
“Só se morre uma vez, mas é para sempre”, dizia o genial pessimista Millôr Fernandes. Ele morreu há pouco, mas não foi para sempre: cá estou – como tantos – lembrando, nele, do que imortaliza: a Palavra, a Arte, o Bem, o Amor que se distribui.
A Semana Santa, nas igrejas cristãs e fora delas, é a celebração dialética vida-morte-ressurreição que mora em tudo o que pulsa e está dentro de nós.
É impossível fazer a travessia sem tropeços, naufrágios, perdas e dores, muitas dores. Mestre Millôr escreveu que “o medo é agudo, a esperança é crônica”. Ele, tão cético, afirmava que estávamos “condenados à esperança”!
Esperança autêntica é mais que um dom: é construção, labor, batalha. Implica em sentir a perda e aceitá-la. Despojados de tudo, arrancados do que mais queremos, podemos ficar livres para praticar o essencial que nos restou: amar, amar e mais amar.
A liturgia desses dias da chamada Semana Santa é belíssima. A Quinta Feira fala do serviço, do maior que se faz menor e servo, lavando os pés dos discípulos. No tempo da arrogância e do Poder imponente, sentado altivo no trono do Dinheiro, construído com o metal pesado do Capital, agachar-se para limpar os pés dos pequeninos, sabendo-se um deles, é sinal de contradição.  E permite a Ceia, a partilha do Pão e do Vinho, em absoluta igualdade de condições. Trigo e uva, corpo e sangue em sua vocação elevada, mística: partilha, comunhão.
A Sexta Feira da Paixão é a da cruz, do chamado à meditação sobre nossa definitiva finitude. No tempo do barulho, dos sons e imagens que abafam o medo da solidão – do encontro com nós mesmos –, esse dia é especial.  Foi feito para relativizarmos a força das coisas e buscarmos a essência.  A morte, quando chegou para reclamar sua propriedade junto àquele Homem pendente em um madeiro, torturado e lacerado, nada encontrou para tomar. Tudo, inclusive seu último suspiro, tinha sido dado: “Pai, em tuas mãos entrego meu Espírito”. Assim, a morte foi vencida. “Se o grão não cai na terra e morre, não produzirá frutos”...
Mesmo aos 33 anos – “na vida nos dão muito enredo para pouco tempo”, reclamou Millôr – o Nazareno viveu intensamente, pois condensou em Si o que é registro na existência de todos nós: nascimento, relação, comunhão, incompreensão, condenação, libertação.
E chegamos ao anúncio do Sábado de Aleluia, à luz matinal do Domingo de Páscoa. Millôr, desafiante, cobra: “sabemos que Você, aí de cima, não tem mais como evitar o nascimento e a morte. Mas não pode, pelo menos, melhorar um pouco o intervalo?”.
Já melhorou, Millôr!  E que bom que Deus nem tentou evitar o nascimento e a morte. Ao contrário, tudo criou célere, em apenas seis dias, ainda que “tendo a eternidade para fazê-lo”, como você constatou, reclamando dos nossos defeitos de fabricação. O Criador, aquele que disse que “não é bom que o homem seja só”, ao descansar (até Ele, que ninguém é de ferro!), “viu que tudo era bom”. Portanto, só o fato de existir esse ‘intervalo’ vivencial já é benção.
 Você afirmou, Millôr, que “o cadáver é que é o produto final. Nós somos apenas matéria-prima”. Mas matéria-prima maravilhosa, argila manufaturada em amor, ternura, com-paixão. Morte, vida, ressurreição!
Superemo-nos, fazendo, cotidianamente, a travessia das trevas para a luz, do medo para a afirmação, do poder para o serviço, da mediocridade para a criatividade, dos véus da mentira para a claridade da verdade. Só assim contestaremos o brilhante contestador, Millôr, para quem “todo homem nasce original e morre plágio”.  Só assim, originalmente renascidos, nesse tempo consumista da repetição e da massificação, alcançaremos a Paz Perene: Páscoa."

Nesta linda e quase perfeita empadona, me não poderia furtar de pôr uma pequenina azeitona, para bem enfeitá-la: a morte, que batiso de de último rito de passagem, dentre os muitos que realizmos na caminhada por este mundo de meu Deus, integra com destaque a tríada vida.morte.resurreição, e não poderia ser menos enfatizada; a "a irma morte", a que com carinho se referia o grande e, no mesmo passo,  humilde, Francisco de Assis. Já na minha modesta opinião, Millôr foi ou ficou imortalizado pela frase "LIVRE PENSAR É SÓ PENSAR!!!".


sábado, 17 de março de 2012

DO ILUSÓRIO GENE EGOISTA AO CRATER COOPERATIVO DO GENOMA HUMANO


A preciosidade e a profundidade deste “Do ilusório gene egoísta ao caráter cooperativo do genoma humano”, elucidativo texto da lavra de Leonardo Boff, me levaram a decidir por fazer a postagem neste blog, para edificação de seguidores e visitantes. A revelação embutida, e que se pode perceber nas entrelinhas, diz caber à educação, e não à revolução armada, a construção da comunidade comunista, com a derrocada do capitalismo, a começar pela transformação interior de cada um de nós. E as três etapas do processo de mudança do capitalismo para o comunismo será reduzida a duas etapas, a do socialismo e a final, do comunismo, e quiçá, a uma só, a da construção direta da própria comunidade comunista. Pela intensiva e extensiva educação de todos, claro! Aí abaixo o texto.

“Tempos de crise sistêmica como os nossos favorecem uma revisão de conceitos e a  coragem para projetar outros mundos possíveis que realizem o que Paulo Freire chamava de o “inédito viável”.


É notório que o sistema capitalista imperante no mundo é consumista, visceralmente egoísta e depredador da natureza. Está levando toda a humanidade a um impasse pois criou uma dupla injustiça: a ecológica por ter devastado a natureza e outra social por ter gerado imensa desigualdade social. Simplificando, mas nem tanto, poderíamos dizer que a humanidade se divide entre aquelas minorias que comem à tripa forra e aquelas maiorias que se alimentam insuficientemente. Se agora quiséssemos universalizar o tipo de consumo dos países ricos para toda a humanidade, necessitaríamos, pelo menos, de três Terras, iguais a atual.

  
Este sistema pretendeu encontrar sua base científica na pesquisa do zoólogo  britânico Richard Dawkins que há trinta e seis anos escreveu seu famoso O gene egoísta (1976). A nova biologia genética mostrou, entretanto, que esse gene egoísta é ilusório, pois os genes não existem isolados, mas constituem um sistema de interdependências, formando o genoma humano que obedece a três princípios básicos da biologia: a cooperação, a comunicação e a criatividade. Portanto, o contrário do gene egoísta. Isso o demonstraram nomes notáveis da nova biologia como a prêmio Nobel Barbara McClintock, J. Bauer, C. Woese e outros. Bauer denunciou que a teoria do gene egoísta de Dawkins “não se funda em nenhum dado empírico”. Pior, “serviu de correlato biopsicológico para legitimar a ordem econômica anglo-norteamericana”  individualista e imperial (Das kooperative Gen, 2008, p.153)


Disto se deriva que se quisermos atingir um modo de vida sustentável e justo para todos os povos, aqueles que consomem muito devem reduzir drasticamente seus  níveis de consumo. Isso não se alcançará sem forte cooperação solidariedade e uma clara autolimitação.


Detenhamo-nos nesta última, a autolimitação, pois é uma das mais difíceis de ser alcançada devido à predominância do consumismo, difundido em todas classes sociais. A autolimitação implica numa renúncia necessária para poupar a Mãe Terra, para tutelar  os interesses coletivos e para promover uma cultura da simplicidade voluntária. Não se trata de não consumir, mas de consumir de forma sóbria, solidária e responsável face aos nossos semelhantes, à toda a comunidade de vida e às gerações futuras que devem também consumir.


A limitação é, ademais, um princípio cosmológico e ecológico. O universo se desenvolve a partir de duas forças que sempre se auto-limitam: as forças de expansão e as forças de contração. Sem esse limite interno, a criatividade cessaria e seríamos esmagados pela contração. Na natureza funciona o mesmo princípio. As bactérias, por exemplo, se não se limitassem entre si e se uma delas perdesse os limites, em bem pouco  tempo, ocuparia todo o planeta, desequilibrando a biosfera. Os ecossistemas garantem sua sustentabilidade pela limitação dos seres entre si, permitindo que todos possam coexistir.


Ora, para sairmos da atual crise precisamos mais que tudo reforçar a cooperação de todos com todos, a comunicação entre todas as culturas e grande criatividade para delinearmos um novo paradigma de civilização. Há que darmos um adeus definitivo ao individualismo que inflacionou o “ego” em detrimento do “nós” que inclui não apenas os seres humanos mas toda a comunidade de vida, a  Terra e o próprio universo.” (grifos de guima)

Retirado de: Amai-vos boletim-e de 16/03/2012.

O ENTERRO DE ALEXANDRE, O GRANDE, DA MACEDÔNIA


ALEXANDRE III, DA MACEDÔNIA, conhecido também por ALEXANDRE MAGNO ou ALEXANDRE, o GRANDE, nascido em 356 a.C., em PELA ou VERGINA, a 20 de julho, aos vinte anos de idade sucedeu a seu pai, FELIPE II, que fora assassinado, e, em apenas treze anos, entre 336 e 323 a.C., um curtíssimo período, construiu o maior e o mais rico império que a humanidade havia visto até então.

Os limites abrangiam desde os Balcãs até a Índia e incluia o Egito e a Báctria, mais ou menos onde hoje fica o Afeganistão. Este notável êxito, não se soube de que houvesse perdido uma batalha sequer, pode e deve ser atribuído ao fato de ser um general de extraordinária habilidade e sagacidade, talvez o melhor de sua época, ou de todas elas.

Na juventude, o mais célebre conquistador que o mundo antigo havia visto, foi discípulo de ARISTÓTELES, seu preceptor. Morreu na Babilônia, a 10 de Junho, às véperas de completar os 33 anos de idade, quase a mesma com que o HOMEM DE NAZARÉ, de nome JESUS, depois chamado o CRISTO foi morto na cruz mais de trezentos anos após.

Pois bem. Foi este homem que manifestou aos generais de seu fabuloso exército três desejos para serem cumpridos quando de seu enterro. Um dos generais, assombrado com o teor deles, pediu-lhe que desse a razão dos mesmos. Aí, a seguir, os três desejos e os respectivos porquês deles.


OS TRES ÚLTIMOS DESEJOS E A RAZÃO DE SER DELES.

1° Que o ataúde fosse levado aos ombros e transportado pelos melhores médicos do reino.
Para que os mais eminentes médicos percebam que perante a morte não gozam do poder de curar.
 
2° Que os tesouros que havia conquistado, prata, ouro, pedras preciosas, fossem espalhados pelo caminho até a tumba.
Para que todos possam ver que os bens materiais aqui conquistados, aqui permanecem.

3° Que as mãos ficassem balançando no ar, fora do ataúde, e à vista de todos.
Para que as pessoas possam ver que viemos com as mãos vazias e com as mãos vazias partimos.


Alexandre, o Grande, da Macedônia, se revelou, ao enfrentar o último rito de passagem de sua curta vida, a morte, não apenas um excelente e sagaz general mas um sábio consciente da imperfeição e precariedade da vida do ser humano, habitante de Gaia, a Mãe Terra, o Planeta Azul de Gagarin.

quarta-feira, 14 de março de 2012

ASSIM É SE LHE PARECE...

 
“O essencial é invisível aos olhos” Saint Éxupèry
A essência é imperceptível aos sentidos Guima

No mundo dos dias atuais, em que o homo sapiens sapiens se esforça por sobreviver e a humanidade é controlada.dominada.subjugada pelo guante do capitalismo, via suas quatro garras malignas, a econômica do mercado avassalador, a política da pseudodemocracia representativa, a social do consumismo desbragado e amor líquido efêmero, e a cultural do endeusamento ególatra do indivíduo, cada vez mais, à medida que os dias vão se sucedendo, o ter assume uma predominância imoral e o ser se torna desprezível, enquanto, via de consequência, as aparências são exaltadas e a essência perde sentido fundamental e o primado outorgado pela natureza. 


Entre os escritos de Luigi Pirandello, dramaturgo siciliano, prêmio Nobel de 1934, há um, “Assim é (se lhe parece)”, já no século XIX, em que põe o dedo nesta ferida.  As gentes, em sua proverbial sabedoria, cunhou vários ditos que expressam isto com clareza meridiana: “quem vê cara não vê coração”, “o livro não se conhece pela capa”, “as aparências enganam”, e tantos outros de mesmo sabor e correção. Na peça, o autor se diverte e brinca com realidade.ilusão, a ilusão da realidade vista pelas diferentes óticas com que pode ser vista.apreciada.entendida pelos que a examinam. E aí é que as aparências se põem no lugar das essências e... as distorções correm o mundo, evidenciando com impiedade as contradições humanas na busca de uma verdade. E o ter toma sem cerimônia o lugar do ser.



É o que acontece com aquelas pessoas para quem “fora do capitalismo não há salvação”. Engraçado, se não fora cruel, no mínimo ver como uma coisa ou fato pode se modificar tanto a depender do olhar de cada pessoa, de cada observador. Um parêntese, chistoso mas esclarecedor, se impõe aqui para mostrar a validade de testemunhas em caso de crime de assalto, com ou sem morte da vítima, na versão de um de nossos humoristas, creio que Chico Anísio: uma testemunha declarou que o assaltante era baixo, gordinho e careca, enquanto outra que ele era alto, magro e com longos cabelos pretos



Na história econômica da humanidade, grosso modo, os sistemas produtivos se iniciam com o escravismo, passam pelo feudalismo, pelo mercantilismo, antessala do capitalismo, até chegar a este, que nasceu de erro gravíssimo cometido por Adam Smith ao conceituar que seria o interesse próprio, “self interest”, o móbil gerador da riqueza das nações. Sabe-se também de mais dois sistemas, o primitivo e o asiático, este em particular na China, que se perdem nas brumas do passado. Hoje, “hic et nunc”, está mais que comprovada a natureza cruel, desumana e perversa do capitalismo, responsável pela injustiça, pelo sofrimento e pelas mazelas que afligem e assolam a humanidade, o mundo, e depreda e destrói o planeta. A crise de 2007-2008, que agora inicia surto de agravamento, ver Europa, Grécia em particular, não nos deixa mentir, sequer ser tendencioso. Mas os menos de um por cento de beneficiários locupletos, que estão em companhia de inocentes úteis, gratuitos ou pagos a peso de ouro, prosseguem com a ladainha “fora do capitalismo não há salvação”. Então, para infelicidade geral, só resta dizer “Assim é (se lhe parece)”.




“O CAPITALISMO RETRATA A MALDADE INTRÍNSECA. É MAU EM SI MESMO. PORQUE NELE NÃO HÁ ESPAÇO, LUGAR, PARA O AMOR. NEM PARA A JUSTIÇA E A PAZ. E TAMPOUCO PARA A LIBERDADE E A FRATERNIDADE.” Guima .

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

PÁGINAS MEMORÁVEIS

Me ocorreu ser de bom alvitre, começar este ano bissexto de 2012, com a postagem de dois textos díspares, tanto em conteudo quanto em data das publicações originais, ambos vindo a lume no séc. XX; um, na primeira década, o outro, na sexta década do século. Um, aponta para a insanidade da sociedade humana, e o outro, para o poderio dos governos no uso da mecânica do controle social. Ambos fazem um chamamento á consciência cidadã das pessoas que, no caso deste blog, são seus seguidores e visitantes. Leiam com atenção e digam se este aprendiz de bloguista está com razão, ou não.

Sobre Deus


      Trecho de artigo inédito, escrito por Jaurès (1859-1914) no final de sua vida


          "O que hoje queremos dizer é que a idéia religiosa, por momentos apagada, pode reapossar-se dos espíritos e das consciências, visto que as conclusões atuais da ciência os predispõem a recebê-la. Existe desde já, se assim se pode dizer, uma religião já pronta, e se ela não penetra neste momento nas profundezas da sociedade, se a burguesia é limitadamente espiritualista ou tolamente positivista, se o proletariado está dividido entre a superstição servil ou o materialismo apaixonado é porque o regime social atual é um regime de embrutecimento e de ódio, quer dizer, um regime irreligioso. Não é, como dizem muitas vezes os declamadores vulgares e os moralistas sem idéias, porque nossa sociedade tenha a preocupação dos interesses materiais que ela é irreligiosa. Pelo contrário, há qualquer coisa de religioso na conquista da natureza pelo homem, na apropriação das forças do Universo às necessidades da humanidade. Não, o que é irreligioso é que o homem não conquista a natureza sem escravizar os homens. Não é a preocupação pelo progresso material que afasta o homem dos altos pensamentos  e da meditação das coisas divinas, é o esgotamento do labor inumano que não permite à maior parte dos homens, ter a força de pensar nem sequer de sentir a vida, quer dizer DeusÉ também a superexcitação das paixões vis, a inveja e o orgulho, que desperdiçam em lutas ímpias a energia íntima dos mais valorosos e dos mais felizes. Entre a provocação da fome e a superexcitação do ódio, a humanidade não pode pensar no infinito. A humanidade é como uma grande árvore, cheia do ruído de moscas irritadas sob um céu de tempestade, e nesse zumbido de ódio a voz profunda e divina do Universo não é ouvida" (grifos de Guima).   
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Pauwels, Louis & Bergier, Jacques * O Despertar dos Mágicos  p.365, Difusão Européia do Livro, 1971, 6ª  ed.

Jaurès, Jean Léon  (1859-1914)   
Livre-docente de Filosofia francês, Jaurès defendeu tese de doutoramento A realidade do mundo sensível, foi deputado provincial, deputado socialista e fundador do Partido Socialista Francês. Grande orador, vice-presidente da Câmara, fundou o jornal L'Humanité  (1904) e dirigiu, de 1901 a 1908, uma Histoire Socialiste



O HEREGE                                                                                                                               Morris West 1969

Prefácio

Uma das ilusões de nosso tempo é a de que o não-conformista, está em ascensão, o herético é herói e o revolucionário, nosso redentor.            

Na realidade, o homem insólito nunca esteve tão em risco nem tão intensamente ameaçado pela conspiração de poder que nos comprazemos em chamar de Governo. A mecânica do domínio social é mais requintada do que nunca na história, ainda mais nos países em que especiais provisões legais e judiciárias parecem pender para o lado do indivíduo. A posição marxista é pelo menos clara: qualquer desvio, você é condenado ao inferno - à expulsão do Partido, à morte com desonra.                                                                                                                                                                             
                               
O método democrático é mais sutil mas não menos eficaz. A autoridade que cobra impostos pode invadir suas transações mais particulares; e o que não pode provar, pode presumir, à falta de prova em contrário. Um funcionário pode requisitar, fichar e transmitir, sem o seu consentimento, os pormenores mais íntimos de sua vida privada; e a sua recusa em comunicá-los pode significar uma presunção de crimes ocultos. O espião social, o gravador de conversas telefônicas, o mascate de engenhos para violar sua intimidade tornaram-se pasmosos personagens de nossa sociedade. A expansão de grandes monopólios dos meio de comunicação confinou os protestatários às ruas e praças, onde seu protesto é facilmente apresentado ou tratado como perturbação da ordem pública. Toda uma indústria se constitui com base na arte de afirmar; mas a dignidade da discordância é denegrida todo dia. Aquele que duvida cai em desgraça porque pede tempo para refletir antes de se comprometer num ato de fé. E a liberdade mais difícil de manter é a liberdade de estar equivocado
                                           
Mas a ameaça ao homem insólito que se recusa a ser arrebanhado não é meramente exterior à pessoa humana. É interior, também. Tantas informações diversas, tantas opiniões divergentes são-lhe metidas pelos olhos e pelos ouvidos a dentro que o esforço para racionalizar tudo isso às vezes ameaça até sua sanidade mental. Freqüentemente sua única salvação é parar para dizer: “Não sei. Não me posso engajar enquanto não tiver entendido. Não me comprometo sem ter o tempo e a liberdade que me são recusados”.  


(...) Eis porque escrevi a história de Giordano Bruno, queimado e morto por heresia há trezentos e setenta anos passados. Não podia acreditar que de um homem se exigisse vender a própria alma  - por mais subdesenvolvida que fosse -  a quem quer que lhe prometesse ordem, disciplina, aceitação social e três refeições por dia. Uma centena de vezes passei pela estátua de Bruno, penseroso, no Campo dei Fiori, em Roma. (...) Uma vez se desdisse e se retratou, após breve inquisição em Veneza; após sete anos nas mãos da Inquisição romana, recusou-se a uma segunda retratação que lhe poderia ter poupado a vida e talvez devolvido a liberdade. Nele encontrei (...) minha convicção de que, cedo ou tarde, o homem tem de possuir uma razão para viver ou morrer. A razão pode errar mas o direito à razão é inalienável. (...)

A História e o Teatro

No Campo dei Fiori, em Roma, encontra-se a estátua de um homem. Seu nome é Giordano Bruno. (...) Esta peça trata do julgamento e morte de Giordano Bruno, o herege.     (...) A trama da peça é brutalmente simples.  Giordano Bruno, herege aos olhos da Igreja, é traído, torturado e forçado, em Veneza, a dobrar os joelhos e retratar-se dos seus erros. Pensa que assim poderá salvar ao mesmo tempo a vida e uma parte, ao menos, de sua obra. Mas Bruno é famoso demais para livrar-se tão facilmente. A Inquisição precisa fazer dele um exemplo notável. Chamam-no heresiarca  - ou seja, não somente herege, mas chefe de uma seita de heréticos. (...) é mantido na prisão por sete anos, sob constante coação e interrogatórios freqüentes. (...) Exigem que se retrate. O preso recusa e é queimado vivo no Campo dei Fiori
                                                                                                                                                          Por que recusou Bruno a segunda retratação? Após a primeira, esta outra teria sido fácil. Eis a verdade que o Autor procura encontrar nesta peça. Encara Bruno como uma figura trágica confrontando-se com um dilema brutal. Se concorda em retratar-se, perde a sua integridade pessoal, a sua própria identidade. Se não se retrata, será executado.  

O dilema de Bruno é o do homem moderno. Este não pode ter esperança de vencer os complexos mecanismos de domínio do Estado moderno que exigem, cada vez mais, a ortodoxia como preço da sobrevivência. Nunca poderá garantir que esteja certo, apenas pode insistir no seu direito de estar errado. (grifos de Guima)