segunda-feira, 9 de abril de 2012

NOVA COSMOLOGIA E LIBERTAÇÃO

Os textos em elaboração pelo autor demandam ainda muito vagar para ficarem concluidos, não só porque são complexos mas também pela extensão. Para evitar grandes hiatos nas postagens, a solução adotada foi publicar artigos de pessoas de alto nível de pensamento, como Leonardo Boff, inquietos e apreensivos com o caminho seguido pela humanidade sob o guante do capitalismo. Assim é que optamos por este post, de autoria do mencionado Boff, com grifos e notas minhas. Ei-lo e bom proveito.

"Tempos atrás o Museu Americano de História Natural fez uma consulta entre biólogos perguntando se eles acreditavam que estávamos no meio de uma extinção em massa. 70% responderam positivamente que sim. O renomado cosmólogo Brian Swimme, autor junto com Thomas Berry de uma das mais brilhantes narrativas da história do Universo (The Universe Story,1992) foi perguntado o que poderíamos fazer, respondeu: “O universo já vem, há tempos, fazendo a sua parte para deter o desastre; mas nós temos que fazer a nossa. E o faremos mediante o despertar de uma nova consciência cosmológica, vale dizer, se ajustarmos nossas condutas à lógica do Universo. Mas não estamos fazendo o suficiente”.

Que quer dizer esta resposta? Ela acena para uma nova consciência que assume a responsabilidade coletiva com referência à proteção de nossa Casa Comum e à salvaguarda de nossa civilização. E ajustar nossas condutas à lógica do Universo significa responder aos apelos que nos vêm do assim chamado “princípio cosmogênico”. Este é o que estrutura a expansão e a autocriação do universo com todos os seus seres inertes e vivos. Ele se manifesta por três características: a diferenciação/complexificação; a subjetividade/interiorização; e a interdependência/comunhão. (Theillard de Chardin, nos anos setenta, se me não engano, fala com clareza e convicção do princípio da interiorizaçaocomplexificante. Nota de Guima)

Em palavras mais simples: quanto mais o universo se expande, mais se complexifica: quanto mais se complexifica mais ganha interiorização e a subjetividade (cada ser tem seu modo próprio de se relacionar e fazer a sua história) e quanto mais ganha interiorização e subjetiviadade mais os seres todos entram em comunhão entre si e reforçam sua interdependência no quadro de um pertencimento a um grande Todo. Comentam Berry/Swimme: “Se não tivesse havido complexidade (diferenciação), o universo ter-se-ia fundido numa massa homogênea; se não tivesse havido subjetividade, o universo ter-se-ia tornado uma extensão inerte e morta: se não tivesse havido comunhão, o universo ter-se-ia transformado num número de eventos isolados”.

Nós teólogos da libertação, em quarenta anos de reflexão, temos tentado explorar as dimensões econômicas, sociais, antropológicas e espirituais da libertação como resposta às opressões específicas. No contexto da crise ecológica generalizada, estamos tentando incorporar esta visão cosmológica. Esta nos obrigou a quebrar o paradigma convencional com o qual organizávamos nossas reflexões, ligadas ainda à cosmologia mecanicista e estática. A nova cosmologia vê diferentemente o universo, como um processo incomensurável de evolução/expansão/criação, envolvendo tudo o que se passa em seu interior, também a consciência e sociedade.

Em termos do princípio cosmológico, libertação pessoal significa: libertar-se de amarras para sentir-se em comunhão com todos os seres e com o universo, fenômeno que os budistas chamam de “iluminação” (satori), uma experiência de não-dualidade e que São Francisco viveu no sentido de uma irmandade aberta com todos os seres. Em termos sociais, a libertação, à luz do princípio cosmogênico é: a criação de uma sociedade sem opressões onde as diversidades são valorizadas e expandidas (de gênero, de culturas e caminhos espirituais). Isso implica deixar para trás a monocultura do pensamento único na política, na economia e na teologia oficial. Este é o principal fator de opressão e de homogeneização.

A libertação requer também um aprofundamento da interioridade. Esta já não se satisfaz com o mero consumo de bens materiais; pede valores ligados à criatividade, às artes, à meditação e à comunhão com a Mãe Terra e com o Universo. A libertação resulta do reforço da “matriz relacional” especialmente com aqueles que sofrem injustiças e são excluídos. Esta matriz nos faz sentir membros da comunidade de vida e filhos e filhas da Mãe Terra que através de nós sente, ama, cuida e se preocupa pelo futuro comum.

Por fim, a libertação na perspectiva cosmogênica demanda uma nova consciência de interdependência e de responsabilidade universal. Somos chamados a reinventar nossa espécie, como o fizemos no passado nas várias crises pelas quais a humanidade passou. Agora ela é urgente porque não temos muito tempo e devemos estar à altura dos desafios da atual crise da Terra. (grifos e nota de Guima.)



“O UNIVERSO É UM MISTÉRIO! A VIDA, UM MILAGRE!”  pensador Guima .
“A VERDADE É UMA TERRA SEM CAMINHOS... QUE A GENTE PRECISA DESBRAVAR PARA ENCONTRAR NOSSA VERDADE E CONSTRUIR O PRÓPRIO CAMINHO.”  filósofo religioso induKrishnamurti + pensador Guima .
“UM DIA VOCÊ PODE PRECISAR DE ESCOLHER ENTRE O MUNDO E O AMOR. LEMBRE-SE ENTÃO: A ESCOLHA DO MUNDO O DEIXARÁ SEM O AMOR. MAS A ESCOLHA DO AMOR O LEVARÁ A CONQUISTAR O MUNDO.” cientista.pensador A. EINSTEIN + pensador Guima .                                                                               
































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sexta-feira, 6 de abril de 2012

A PAZ DA PÁSCOA


O autor, na falta de produção própria, decidiu não deixar passar em branco este dia em que judeus e cristãos  promovem a celebração do dia especial da Páscoa e resolveu transcrever este belo artigo da lavra do professor de História e deputado federal Chico Alencar, PSOL/RJ, em que trava um monólogo com o grande Millôr Fernandes, recém-falecido, umas maiores "cabeças" deste país, senão a maior.


 
“Só se morre uma vez, mas é para sempre”, dizia o genial pessimista Millôr Fernandes. Ele morreu há pouco, mas não foi para sempre: cá estou – como tantos – lembrando, nele, do que imortaliza: a Palavra, a Arte, o Bem, o Amor que se distribui.
A Semana Santa, nas igrejas cristãs e fora delas, é a celebração dialética vida-morte-ressurreição que mora em tudo o que pulsa e está dentro de nós.
É impossível fazer a travessia sem tropeços, naufrágios, perdas e dores, muitas dores. Mestre Millôr escreveu que “o medo é agudo, a esperança é crônica”. Ele, tão cético, afirmava que estávamos “condenados à esperança”!
Esperança autêntica é mais que um dom: é construção, labor, batalha. Implica em sentir a perda e aceitá-la. Despojados de tudo, arrancados do que mais queremos, podemos ficar livres para praticar o essencial que nos restou: amar, amar e mais amar.
A liturgia desses dias da chamada Semana Santa é belíssima. A Quinta Feira fala do serviço, do maior que se faz menor e servo, lavando os pés dos discípulos. No tempo da arrogância e do Poder imponente, sentado altivo no trono do Dinheiro, construído com o metal pesado do Capital, agachar-se para limpar os pés dos pequeninos, sabendo-se um deles, é sinal de contradição.  E permite a Ceia, a partilha do Pão e do Vinho, em absoluta igualdade de condições. Trigo e uva, corpo e sangue em sua vocação elevada, mística: partilha, comunhão.
A Sexta Feira da Paixão é a da cruz, do chamado à meditação sobre nossa definitiva finitude. No tempo do barulho, dos sons e imagens que abafam o medo da solidão – do encontro com nós mesmos –, esse dia é especial.  Foi feito para relativizarmos a força das coisas e buscarmos a essência.  A morte, quando chegou para reclamar sua propriedade junto àquele Homem pendente em um madeiro, torturado e lacerado, nada encontrou para tomar. Tudo, inclusive seu último suspiro, tinha sido dado: “Pai, em tuas mãos entrego meu Espírito”. Assim, a morte foi vencida. “Se o grão não cai na terra e morre, não produzirá frutos”...
Mesmo aos 33 anos – “na vida nos dão muito enredo para pouco tempo”, reclamou Millôr – o Nazareno viveu intensamente, pois condensou em Si o que é registro na existência de todos nós: nascimento, relação, comunhão, incompreensão, condenação, libertação.
E chegamos ao anúncio do Sábado de Aleluia, à luz matinal do Domingo de Páscoa. Millôr, desafiante, cobra: “sabemos que Você, aí de cima, não tem mais como evitar o nascimento e a morte. Mas não pode, pelo menos, melhorar um pouco o intervalo?”.
Já melhorou, Millôr!  E que bom que Deus nem tentou evitar o nascimento e a morte. Ao contrário, tudo criou célere, em apenas seis dias, ainda que “tendo a eternidade para fazê-lo”, como você constatou, reclamando dos nossos defeitos de fabricação. O Criador, aquele que disse que “não é bom que o homem seja só”, ao descansar (até Ele, que ninguém é de ferro!), “viu que tudo era bom”. Portanto, só o fato de existir esse ‘intervalo’ vivencial já é benção.
 Você afirmou, Millôr, que “o cadáver é que é o produto final. Nós somos apenas matéria-prima”. Mas matéria-prima maravilhosa, argila manufaturada em amor, ternura, com-paixão. Morte, vida, ressurreição!
Superemo-nos, fazendo, cotidianamente, a travessia das trevas para a luz, do medo para a afirmação, do poder para o serviço, da mediocridade para a criatividade, dos véus da mentira para a claridade da verdade. Só assim contestaremos o brilhante contestador, Millôr, para quem “todo homem nasce original e morre plágio”.  Só assim, originalmente renascidos, nesse tempo consumista da repetição e da massificação, alcançaremos a Paz Perene: Páscoa."

Nesta linda e quase perfeita empadona, me não poderia furtar de pôr uma pequenina azeitona, para bem enfeitá-la: a morte, que batiso de de último rito de passagem, dentre os muitos que realizmos na caminhada por este mundo de meu Deus, integra com destaque a tríada vida.morte.resurreição, e não poderia ser menos enfatizada; a "a irma morte", a que com carinho se referia o grande e, no mesmo passo,  humilde, Francisco de Assis. Já na minha modesta opinião, Millôr foi ou ficou imortalizado pela frase "LIVRE PENSAR É SÓ PENSAR!!!".