sábado, 17 de março de 2012

DO ILUSÓRIO GENE EGOISTA AO CRATER COOPERATIVO DO GENOMA HUMANO


A preciosidade e a profundidade deste “Do ilusório gene egoísta ao caráter cooperativo do genoma humano”, elucidativo texto da lavra de Leonardo Boff, me levaram a decidir por fazer a postagem neste blog, para edificação de seguidores e visitantes. A revelação embutida, e que se pode perceber nas entrelinhas, diz caber à educação, e não à revolução armada, a construção da comunidade comunista, com a derrocada do capitalismo, a começar pela transformação interior de cada um de nós. E as três etapas do processo de mudança do capitalismo para o comunismo será reduzida a duas etapas, a do socialismo e a final, do comunismo, e quiçá, a uma só, a da construção direta da própria comunidade comunista. Pela intensiva e extensiva educação de todos, claro! Aí abaixo o texto.

“Tempos de crise sistêmica como os nossos favorecem uma revisão de conceitos e a  coragem para projetar outros mundos possíveis que realizem o que Paulo Freire chamava de o “inédito viável”.


É notório que o sistema capitalista imperante no mundo é consumista, visceralmente egoísta e depredador da natureza. Está levando toda a humanidade a um impasse pois criou uma dupla injustiça: a ecológica por ter devastado a natureza e outra social por ter gerado imensa desigualdade social. Simplificando, mas nem tanto, poderíamos dizer que a humanidade se divide entre aquelas minorias que comem à tripa forra e aquelas maiorias que se alimentam insuficientemente. Se agora quiséssemos universalizar o tipo de consumo dos países ricos para toda a humanidade, necessitaríamos, pelo menos, de três Terras, iguais a atual.

  
Este sistema pretendeu encontrar sua base científica na pesquisa do zoólogo  britânico Richard Dawkins que há trinta e seis anos escreveu seu famoso O gene egoísta (1976). A nova biologia genética mostrou, entretanto, que esse gene egoísta é ilusório, pois os genes não existem isolados, mas constituem um sistema de interdependências, formando o genoma humano que obedece a três princípios básicos da biologia: a cooperação, a comunicação e a criatividade. Portanto, o contrário do gene egoísta. Isso o demonstraram nomes notáveis da nova biologia como a prêmio Nobel Barbara McClintock, J. Bauer, C. Woese e outros. Bauer denunciou que a teoria do gene egoísta de Dawkins “não se funda em nenhum dado empírico”. Pior, “serviu de correlato biopsicológico para legitimar a ordem econômica anglo-norteamericana”  individualista e imperial (Das kooperative Gen, 2008, p.153)


Disto se deriva que se quisermos atingir um modo de vida sustentável e justo para todos os povos, aqueles que consomem muito devem reduzir drasticamente seus  níveis de consumo. Isso não se alcançará sem forte cooperação solidariedade e uma clara autolimitação.


Detenhamo-nos nesta última, a autolimitação, pois é uma das mais difíceis de ser alcançada devido à predominância do consumismo, difundido em todas classes sociais. A autolimitação implica numa renúncia necessária para poupar a Mãe Terra, para tutelar  os interesses coletivos e para promover uma cultura da simplicidade voluntária. Não se trata de não consumir, mas de consumir de forma sóbria, solidária e responsável face aos nossos semelhantes, à toda a comunidade de vida e às gerações futuras que devem também consumir.


A limitação é, ademais, um princípio cosmológico e ecológico. O universo se desenvolve a partir de duas forças que sempre se auto-limitam: as forças de expansão e as forças de contração. Sem esse limite interno, a criatividade cessaria e seríamos esmagados pela contração. Na natureza funciona o mesmo princípio. As bactérias, por exemplo, se não se limitassem entre si e se uma delas perdesse os limites, em bem pouco  tempo, ocuparia todo o planeta, desequilibrando a biosfera. Os ecossistemas garantem sua sustentabilidade pela limitação dos seres entre si, permitindo que todos possam coexistir.


Ora, para sairmos da atual crise precisamos mais que tudo reforçar a cooperação de todos com todos, a comunicação entre todas as culturas e grande criatividade para delinearmos um novo paradigma de civilização. Há que darmos um adeus definitivo ao individualismo que inflacionou o “ego” em detrimento do “nós” que inclui não apenas os seres humanos mas toda a comunidade de vida, a  Terra e o próprio universo.” (grifos de guima)

Retirado de: Amai-vos boletim-e de 16/03/2012.

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