terça-feira, 19 de outubro de 2010

DILEMA DO DIA 31


No dia 31 de outubro, o Brasil, as brasileiras e os brasileiros, se defrontam com sério dilema: em quem votar para presidente da república. Há quatro anos, em 2006, ocorreu idêntica situação. A diferença está em que, naquela época, os candidatos que se defrontavam eram Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin. Hoje os nomes são Dilma Roussef e José Serra. No mais, coisa alguma mudou. Então, escrevi algumas palavras que cabem como uma luva nas circunstâncias atuais e que, por esta razão, transcrevo a seguir alguns trechos importantes.
“O país está numa encruzilhada e nós, eleitorado, estamos vivendo um momento crucial na história do nosso Brasil. Há quatro anos, em 2002, Lula obteve uma expressiva vitória contra Serra e se elegeu presidente da república com os votos dos que não se deixaram atemorizar e votaram “sem medo de ser feliz”. É claro que com seu governo, tão distante das esperanças dos eleitores, Lula frustrou a expectativa dos milhões que apostaram na mudança. E ainda há a questão da corrupção, que “enlameou” parte substancial de seus auxiliares diretos, ministros inclusive, e companheiros mais próximos, a agravar o desencanto e a indignação de todos os que nele confiaram. 
Mas, o que está em jogo neste segundo turno é muito mais sério, muito mais grave, muito mais profundo: o que está em jogo, mesmo, é se o Brasil vai conseguir manter no timão do governo central do país, um cidadão que veio do “time dos de baixo”, do time daqueles que passam fome, vegetam na miséria, (sobre)vivem numa pobreza acintosa, são dominados, explorados e oprimidos, estão na marginalização ou excluídos do avanço tecnológico e do progresso, ou se o eleitorado vai devolvê-lo aos “donos do poder”, que não perderam o poder em momento algum, apenas deixaram escorregar de suas mãos as rédeas do governo federal.
Esta não é a hora, não é o momento, de se apurar quem é mais corrupto ou mais incompetente, quem é de direita, de centro ou de esquerda. A hora, o momento, é de definir quem é mais nocivo para o país. A hora, o momento, é de garantir o pouco de mudança que ocorreu, nestes quase quatro anos, que inverteu a pauta da mídia grande, que se voltou para os interesses do povo, e jogou para escanteio a que vigia no governo anterior do vaidoso viperino FHC e nos que o antecederam, que privilegiava os interesses do grande capital.
É a hora, o momento: [1] de garantir a continuidade da política externa independente que se instaurou de 2003 pra cá: de estreitamento dos laços de solidariedade Sul-Sul, de independência e soberania ante os poderosos do mundo, no embate díspar Norte-Sul, de fraternidade e cooperação com os coirmãos da América Latina, em particular da América do Sul;
[2] de manter e ampliar o viés das políticas sociais, o Fome Zero com o Bolsa-Família à frente, voltadas para o atendimento das necessidades e carências da população sofrida do país, que constituem sua esmagadora maioria, com inclusão social, criação de empregos, distribuição de renda e da riqueza, melhoria substancial nas políticas públicas de educação, saúde e segurança, entre outras tão importantes quanto estas;
[3] de evitar que a política deletéria das privatizações volte a atingir o país, com a venda ao setor privado, nacional e internacional, e a preço de banana, do que ainda resta do patrimônio empresarial construído com o esforço inaudito do povo; e,
[4] por último, mas não menos importante, de impedir que a classe dominante, os banqueiros, os grandes industriais, os altos negociantes e os latifundiários do agronegócio, representados pelos políticos que se prestam a servir-lhes de testas de ferro, voltem a pôr as mãos exploradoras e opressoras no comando do governo central do país.
Encareço a todas e a todos que reflitam bastante sobre qual futuro desejam e querem para si próprios, para seus filhos, parentes e amigos, enfim para as brasileiras e os brasileiros deste Brasil tão rico em potencial e tão pobre e explorado na pungente realidade”.
A acrescentar, apenas, que o dilema não está em se votar em Dilma ou em Serra, nem em votar no PT/PMDB ou no PSDB/DEM. O crucial dilema do dia 31 é que está em jogo a opção entre dois projetos distintos em ação: ou o Brasil prossegue no caminho em que a eleição de Lula em 2002 o pôs, ou retrocede e volta a cair nos braços dos que o dominaram, e ainda dominam, há mais de 500 anos. Um, é o projeto neoliberal, que tenta dissimular aos olhos de todos o caráter em alto grau depredador do processo de acumulação capitalista, concentrador de renda, que acarreta o aumento vertiginoso das injustiças, da exclusão e da fome; o outro, é o de uma democracia social e popular mitigada, cuja base social é o povo organizado e todos aqueles que pela vida afora se empenharam pela construção de outro Brasil, livre, humano, igualitário e solidário. É com este dilema que eleitoras e eleitores vão se defrontar. Não é uma escolha entre duas pessoas, Serra ou Dilma, mas entre dois projetos de Brasil: o da manutenção das desigualdades, do status quo, e o a favor da igualdade, da distribuição da renda e da riqueza, da eliminação da fome e da miséria. É este enigmático dilema, crucial para o Brasil, que o eleitorado vai precisar decifrar, com o voto nas urnas, no dia 31 de outubro de 2010.