quarta-feira, 22 de setembro de 2010

CONSELHOS DE PARANINFO E PATRONO

Em 1982, a turma de engenheiros químicos industriais, graduandos pela Escola Politécnica da Ufba, escolheu como paraninfo o Sindicato de Engenheiros da Bahia  - SENGE/BA. A entidade, intramuros, decidiu dividir a oração do paraninfo em duas partes: a primeira, na palavra do engenheiro José Olívio Miranda Oliveira, Presidente do Sindicato, mostraria aos novos engenheiros a vital importância da participação na vida sindical; a segunda, enfatizando a necessidade imperiosa da atuação dos formandos, como cidadãos, na vida da comunidade em que estão inseridos, seria exposta pelo engenheiro Sérgio Vladimiro Guimarães, Diretor do Sindicato e Patrono, pai do neo-engenheiro Paulo Ignácio Guimarães que era, e sou. É esta segunda parte que vai ser transcrita.

               “Na dupla condição de sindicalista e patrono, e mais nesta última que naquela, cabe-me neste instante, dando continuidade a esta fala, a duas vozes, do Sindicato dos Engenheiros, iniciada por José Olívio, dizer algumas palavras que possam traduzir, aqui e agora, o sentido da responsabilidade do homem ante a vida e o compromisso que essa consciência encerra para todos nós e para cada um em particular.
               E vou buscar inspiração na poesia autenticamente brasileira para dizer a vocês, jovens formandos, queridos protegidos, que

“a vida é luta renhida,
viver é lutar,
a vida é combate,
que aos fracos abate
e aos fortes e bravos
só pode exaltar”.

               Sim, é mister que se realce este aspecto sadio da luta que integra a vida, porque vivemos um momento crucial na história da humanidade, neste duplo fim de século e de milênio, que repercute em nosso país e, por que não?, nos atinge diretamente nesta noite de festa e de alegria, em que vocês e nós, formandos, patronos, paraninfos, homenageados, parentes, amigos e convidados, celebramos o encerramento de uma etapa de vida de vocês, com a conquista de mais uma vitória: a láurea de engenheiro químico.
               Em todos os quadrantes de nosso planeta, os povos lutam arduamente pela sua sobrevivência, consubstanciada no reconhecimento e no respeito aos direitos inalienáveis do homem: o direito à vida, à saúde, educação, moradia, trabalho, repouso, lazer; o direito à liberdade, de opinião, expressão, organização, locomoção, residência, consciência, religião; e o direito à segurança pessoal, ao reconhecimento de sua dignidade de pessoa humana, de igualdade perante a lei, à presunção de sua inocência face a qualquer acusação, de não ser arbitrariamente preso, detido, exilado; de não ser submetido à tortura, tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.
               Em nosso Brasil, não menos decisivo para realização de seu destino, é o instante que transcorre: neste ano eleitoral, cansado de ser espoliado, enganado e manipulado, seu povo se posiciona em busca de fazer valer as liberdades democráticas porque tanto tem lutado, como via pacífica e legítima para derrubar o sistema de governo autoritário que há mais de 17 anos vem ininterruptamente nos oprimindo, impedindo a manifestação consequente e fecunda das forças sociais.
               Também nesta noite festiva, vocês, caros colegas, no limiar de uma nova vida, se deparam com a mesma encruzilhada, que comporta um difícil dilema: ou compactuar, ativamente ou por omissão, com as forças da opressão para garantir o trabalho, ou formar ao lado do povo em sua luta pela democracia e vir engrossar o numeroso contingente dos desempregados.
               Válido é, pois, repetir o poeta: “Viver é lutar”. E a luta se trava, basicamente, em que pesem as diferentes formas e nuances que assume aqui e ali, contra a opressão, a violência institucionalizada e o obscurantismo. O combate é um só: contra os privilégios, as discriminações, os preconceitos, as injustiças. O campo onde ele se desenrola é único também: o dos direitos humanos e das liberdades democráticas. Mas nós, profissionais da engenharia de todas as modalidades e matizes, temos batalhas a enfrentar em três palcos distintos: no campo dos interesses específicos da categoria, no campo das atividades sindicais e no campo da participação na sociedade.
               No primeiro, no campo dos interesses específicos da categoria, destacam-se as seguintes lutas: atualização, aperfeiçoamento e fiscalização da legislação que rege o exercício da profissão; melhoria no ensino da engenharia, em face da realidade social; garantia da admissão no emprego e do exercício da profissão, independentemente de sexo, raça, religião, convicções político-ideológicas; realização de eleições diretas para o sistema CREA-CONFEA; estabilidade no emprego; reajuste salarial periódico, para reposição e manutenção do poder aquisitivo da categoria.
               No campo das atividades sindicais: criação de formas decisórias no processo diretivo do sindicato, de modo a ampliar ao máximo a participação da categoria na gestão da entidade; realização de um trabalho permanente de sindicalização, inclusive desde a universidade; consolidação da Federação Nacional dos Engenheiros como entidade nacional representativa da categoria; apoio político e solidariedade às lutas sindicais justas empreendidas pelos sindicatos na defesa dos trabalhadores em geral; liberdade e autonomia sindicais.
               No campo da participação na sociedade: estabelecimento de uma política científica e tecnológica voltada para os interesses do povo; canalização de maiores recursos para os setores básicos que atendam às necessidades da maioria da população, ou seja, para saneamento, habitação, transporte, nutrição; melhoria da qualidade de vida e garantia do equilíbrio ecológico; defesa da Amazônia; fim dos desníveis econômicos e sociais, resultantes do modelo econômico vigente; união das classes trabalhadoras; extinção da lei de segurança nacional e demais atos e leis de exceção.
               Todas essas lutas integram o programa básico de trabalho da atual diretoria de nosso sindicato, mas sua realização completa depende da participação decidida de todos: de cada um de vocês, de cada um de nós. A participação é fundamental, é decisiva.
               Nesta hora de emoção para todos, e de dupla emoção para mim, que falo em nome do Sindicato dos Engenheiros e no dos patronos, pai de Paulo Ignácio que sou, quero afirmar que só com a participação de todos, na união dos esforços dos homens de boa vontade e de formação democrática, é que construiremos a sociedade igualitária, justa e fraterna, sem opressores e oprimidos, exploradores e explorados, que todos almejamos.
               Homem de fé e, por isto mesmo, homem de esperança, não poderia concluir estas palavras, momento em que abraço cada um de vocês pessoalmente, sem dizer de minha inabalável convicção no advento de um mundo melhor, onde impere a justiça e reine a paz, e que será fruto do amor, porque sem amor não há justiça e sem justiça não pode haver paz.   
               Parabéns para todos vocês e felicidades!”