segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O PRINCÍPIO DE TUDO


Sobre o Princípio de tudo, à luz do que diz Moisés, no Antigo Testamento, e do que diz João, no Novo Testamento, apresento um texto mais condizente com o conhecimento de nossos dias e, surpreendente, bem próximo de João e distante de Moisés. 



O PRINCÍPIO DE TUDO:
Versão de Guimarães S. V.

   1 No princípio havia O Sem Nome, Aquele Que Não Se Pode Conhecer, e nele não havia começo nem fim.
   2 Então, nele, dele e por ele foram criados o céu e a terra, e a luz resplandecia sobre as trevas, e a Força Criadora pairava sobre as águas.



GÊNESIS: A criação dos céus e da terra e de tudo o que neles há

Primeiro livro de Moisés Cap. 1, vers. 1-2

                                                                                                        
   1 No princípio criou Deus os céus e a terra,
   2 A terra, porém, era sem forma e vazia;
      havia trevas sobre a face do abismo, e o
      Espírito de Deus pairava por sobre as águas.


O EVANGELHO:Segundo João Cap.1, vers. 1-5


  1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
  2 Ele estava no princípio com Deus.
  3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dele,
     e sem ele nada do que foi feito se fez.
  4 A vida estava nele, e a vida era a luz dos homens.
  5 A luz resplandece nas trevas, e as trevas
     não prevaleceram contra ela.
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In: Bíblia Sagrada  tradução Pe. Antonio Pereira de Figueiredo Adaptação para o linguajar de nossos dias
     Ed. Tempo/Maltese 1962 (?!)
 



quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O VOTO NULO

O dia 3 de outubro se aproxima com celeridade. Faltam pouco menos de quarenta dias para que a cidadã e o cidadão enfrentem as urnas para decidir sobre os destinos do país. É hora, então, de falar do voto nulo.

O voto nulo é uma questão de cultura. É consequência direta das circunstâncias políticas, econômicas e socioculturais em que o eleitorado está imerso. Por que as pessoas no Brasil votam nulo?

As razões e motivos são:
  1. a maioria porque nenhum candidato presta;
  2. muitas porque os candidatos são quase todos ladrões e muitos que não o são passam a ser, seduzidos pelas benesses do poder;
  3. outras porque é bom instrumento de negação do processo eleitoral, dessa bagunça generalizada;
  4. outras tantas porque não reconhecem o voto e a democracia representativa como formas legítimas de se fazer política;
  5. algumas porque acreditam nessa manifestação contra o sistema em geral, contra o próprio estado, caso dos anarquistas, contra a democracia, sim, nem todo mundo a acha linda, contra a lógica eleitoral;
  6. algumas outras porque não reconhecem a democracia representativa, o voto obrigatório, e defendem uma democracia participativa, direta.
E deve haver outras e outros. Mas estão equivocados, porque o voto nulo não é instrumento adequado para resolver todas as questões postas, que reconheço legítimas. Só a construção de outro mundo possível, e desejável, pode dar solução a todas elas. Isto requer a união de todos os que pensam diferente dos que defendem o capitalismo, um sistema cruel, desumano e perverso de organização econômica, política, social e cultural.

A posição do autor sobre o voto nulo é bem clara. E se adequa às circunstâncias em que se está submerso no país. Circunstâncias em que se vive e até se respira. O voto nulo é omissão. E omissão é o maior pecado porque é o pecado contra a esperança. Para as eleições de 2008, que ocorreram dois anos atrás, o autor escreveu o texto "alerta e chamamento ao eleitorado", em que expõe com clareza seu pensamento. Vamos a ele.

Alerta e chamamento ao eleitorado.

As eleições, ainda que paroquiais, se aproximam com celeridade. Dentro de uns quinze dias, mais uma vez o povo é chamado para, pelo poder do voto, exercer a cidadania. O voto é um direito e um dever, num mesmo passo. Uma ação afirmativa.

Uma questão se antepõe: em quem votar?

Em princípio, o voto deve ser dado ao candidato que se considera irá conduzir bem a coisa pública, os destinos da cidade, do município. Na prática, se vota no bom candidato e, se há mais de um bom, no melhor. Mas, e se todos os candidatos são ruins? Aí a coisa se complica.

O voto nulo ou o voto em branco não são soluções. Tampouco a abstenção. O voto nulo é o "voto de Pilatos, o de "lavar as mãos". É abdicar, abrir mão do direito e do dever de decidir. É transferir para outros a decisão sobre os destinos da cidade, do município. Votar nulo é ficar "em cima do muro". Com um agravante: ao contrário daqueles que ficam em cima do muro para tirar partido, pular para o lado vitorioso, quem vota nulo não tem "lado vitorioso" pra onde pular. O voto em branco pode significar um voto de protesto, mas não leva a nenhuma solução concreta, já que os votos em branco não pesam, não contam.

Que fazer, então? Se abster? Também não é boa saida. E se assemelha ao voto nulo. Também ocorre a abdicação do direito e do dever de decidir. O que resta é votar no menos ruim, no menos pior. No candidato ruim que, em nossa avaliação, irá ser menos nocivo à comunidade, aos destinos da cidade e do município. Naquele candidato ruim que irá causar menos dano a todos, que irá ser menos pernicioso. É uma solução intragável, intolerável, mas heroica. Não há outra solução válida e efetiva para o exercício da cidadania consciente.

Arnold Toinbee, extraordinário historiador inglês, disse que "O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é serem governados pelos que se interessam". Digo, parodiando, que "O maior castigo para aqueles que não votam é serem governados por alguem eleito pelos que votam".

Exerça seu direito e cumpra seu dever de pôr em ação sua cidadania. Vote no menos pior que, nas circunstâncias, é votar no melhor. Pelo amor ao Município, ao Estado e ao País, NÃO VOTE NULO!

A abstenção, o voto nulo ou o voto em branco não levam a coisa alguma.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

DITADURA DO PROLETARIADO E DITADURA DA BURGUESIA



A construção do comunismo, foi dito, é um processo que contempla três etapas bem distintas: assalto ao poder, com tomada e manutenção dele; a implantação do socialismo; e a edificação da comunidade comunista. A maturação deste processo é longa, com alcance de dois séculos ou mais.
O primeiro estágio, batizado com candura por Lênin de “ditadura do proletariado”, pretende substituir o regime então vigente, de opressão e dominação das camadas desvalidas da sociedade, por um novo, no âmbito do ideário socialistacomunista, em que os direitos inalienáveis do povo serão respeitados, e os interesses comunitários e coletivos sobrepujarão os interesses privados e individuais. Nesta etapa, a figura do Estado ainda persiste, mas com caráter em oposição diametral ao anterior destituído. O período pode perdurar menos de um século.
Na implantação do socialismo, segundo estágio, o Estado proletário ainda prossegue, sob um regime de governo constituido por uma democracia popular participativa ao reverso da pseudodemocracia representativa do capitalismo. O lema que preside esta etapa é “retirar de cada um de acordo com sua capacidade e dar a cada um de acordo com sua necessidade”. O socialismo é, para Marx, a real fase de transição do capitalismo para o comunismo. A maturação desta fase pode durar até um século.
Enfim, chega-se ao último estágio, o comunismo, melhor dizer, a comunidade comunista, em que a figura da instituição Estado foi, ao fim e ao cabo, abolida, banida da face da terra.
A caminhada para o comunismo envolve um longo e delicado processo educativo de transformação porque se trata de uma conversão, uma mudança profunda e integral de mentalidade, de paradigmas, de relacionamentos e comportamentos interpessoal e intrassocial. O estágio inicial, em que se instalará o governo batizado de ditadura do proletariado, é por definição um período turbulento, com perda de vidas, derramamento de sangue e cerceamento da liberdade política. E por que isso?
É fácil de explicar e de entender se a mente é aberta. Começa que é resultante de uma mudança violenta, o assalto ao poder, no status quo da vida das pessoas e do país. As normas e leis vigentes são abolidas, substituídas por outras bem diferentes, e até antagônicas, que são impostas pelo novo regime. O novo poder vitorioso, conquistado por uma minoria atuante, estará “cercado” pela maioria quase esmagadora dos vencidos, não apenas internos mas pelos aliados externos. Não poderá dar “colher de chá” a pessoas ou grupos dissidentes. A nova ordem, política, econômica, social e cultural, precisará ser imposta a ferro e fogo, ao menos nos primeiros dez/trinta anos de sua consolidação. É necessário aguardar que as novas gerações cresçam e amadureçam, enquanto as velhas se extinguem, para que, passo a passo, os controles políticos se abrandem e o novo modo de viver socialista se estabeleça. E é aí que “mora” a fragilidade do processo.
O exemplo da revolução francesa, 1789-1799, é claro e elucidativo. Após a Queda da Bastilha, seguiu-se um período em que o terror campeou e atingiu adversários da aristocracia reinante e, em 1794, os próprios líderes revolucionários foram caindo um a um debaixo da aguçada lâmina da guilhotina. A começar pelos girondinos de Brissot, seguidos pelos jacobinos Camilo Desmoulins, o maior amigo de Robespierre, e Danton, o grande tribuno, entre outros, para afinal chegar a vez de Saint-Just, Fouquier-Tinville e o famoso Robespierre, “o Incorruptível”. Este disse, com propriedade: “O princípio de um governo democrático é a virtude; mas o seu meio, enquanto se estabelece, é o terror!” Ações que ocorreram em nome da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, da mesma forma que tantos crimes se cometeram, e ainda hoje são cometidos, em nome da Democracia, de Deus e do Amor. Alguém disse: “Quando se chegou ao poder pela violência, que outro meio de manter-se nele, contra as competições rivais, senão reinando pelo terror?” É a lição da História.
Cento e cinquenta anos depois, no século XX, inspiradas no mesmo ideário, irromperam a revolução russossoviética comandada por Lenin, 1917; a grande marcha chinesa, guiada por Mao Tsé-tung, 1949; e a revolução cubana liderada por Fidel Castro, 1959. Das três só a última perdura.  A primeira pereceu em 1989, quando Gorbatchev tentou fazer a passagem para o socialismo com a Glasnost, transparência, e a Perestroika, reconstrução. A URSS, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ruiu e, na prática, as repúblicas caíram nos braços do capitalismo. Já a revolução maoísta sofreu mal maior: transformou-se num capitalismo de Estado. A revolução cubana é a única que permanece, com possibilidade de fazer a passagem para o socialismo, a depender de dois fatores: de como se dará a substituição dos Castros, Fidel e Raul, no poder; e de a democracia líder do mundo, os EUA, permitir.
O porquê do nome “ditadura do proletariado” é simples e de meridiana clareza. Lenin e seus seguidores consideraram que as democracias ocidentais não eram bem democráticas: eram uma “ditadura da burguesia”. O que é válido até nossos dias. As pseudodemocracias do mundo mais não são que ditaduras das respectivas classes dominantes, “os donos do poder”, no dizer do decantado Raimundo Faoro. Então, com toda candura, os revolucionários de 1917 chamaram a sua democracia de “ditadura do proletariado”. O que deu “pano pra manga” e a direita deitou e rolou.
Falar mais sobre “ditadura do proletariado” e “ditadura da burguesia” pede um recuo na História para se entender os mitos e conhecer as origens da democracia e do capitalismo. É o que tentaremos fazer em próximo post, “Mito. Democracia. Capitalismo”.